Aleitamento materno exclusivo (ainda) constitui um desafio em Moçambique
Em Moçambique, embora as taxas de aleitamento materno sejam boas, a amamentação exclusiva nos primeiros seis meses ainda constitui um desafio, tal como indica o Relatório Anual de Moçambique (2016) poduzido pela UNICEF. “As mães muitas vezes amamentam enquanto caminham ou estão a fazer trabalhos domésticos, e o bebé não consegue alimentar-se devidamente. Quando o bebé chora, a avó diz tratar-se de fome e recomenda que se dê xima (farinha de milho) ao bebé, que tem menos de seis meses”, lê-se no documento, que cita a Directora de nutrição do Ministério da Saúde, em Tete, Fábula da Silva.
Como resposta, o Governo de Moçambique e parceiros, através do Plano de Acção Multissectorial para a Redução da Desnutrição Crónica em Moçambique 2011 – 2014 (2020) propõem-se, como meta, a aumentar as taxas de aleitamento materno exclusivo em menores de seis meses, de 37% em 2008, para 60% em 2015, e 70% em 2020.
De acordo com o Inquérito dos Indicadores Multiplos (2008), aproximadamente dois terços dos recém-nascidos foram amamentados dentro do período recomendado (na primeira hora após o nascimento) e cerca de 90% foram amamentados no primeiro dia de vida. Porém, apenas 37% recebeu aleitamento materno exclusivo durante os primeiros seis meses de vida, como é recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A duração do aleitamento materno diminuiu de uma média de 22 meses em 2003 para 18 em 2008 (sendo 19 meses nas áreas rurais e 18 nas urbanas) encontrando-se muito abaixo de 24 meses ou mais recomedados.
Está desenhado no Plano de Acção, como intervenção-chave para combater a desnutrição crónica e fortalecer as actividades nutricionais dirigidas às crianças nos primeiros dois anos de vida, a criação de grupos de mães nas comunidaes para apoiarem outras com crianças menores de seis meses de idade na amamentação exclusiva dos seus bebés.
Aliando a Agricultura à Nutrição para promover o aleitamento materno exclusivo
Alinhado a estes desafios, a Save the Children International em Moçambique (SCiMoz), dentro daquilo que são as suas intervenções na componente de Saúde e Nutrição, em parceria com a Helen keller International está a desenvolver, nas províncias de Manica e Tete, o projecto Ligando a Agricultura à Nutrição (LAN), que visa melhorar o estado nutricional de mulheres em idade reprodutiva, meninas adolescentes e crianças dos 0 a 59 meses. Este projecto trabalha com gestantes e mães de crianças menores de dois anos, através de modelos comprovados de comunicação e mudança de comportamento social para nutrição, água, saneamento e higiene. O objectivo é aumentar o poder das mulheres na tomada de decisões sobre nutrição dentro do lar, bem como a realização de um trabalho conjunto com homens e tomadores de decisão com vista ao aumento do nível de consciênciasobre a importância da nutrição para o bem-estar das mulheres, meninas e crianças.
Neste contexto, as duas organizações têm treinado mulheres, denominadas ‘mães-modelo’, tidas como exemplares e como referências de boa conduta nas suas comunidades. Estas foram indicadas pela própria comunidade e têm beneficiado de capacitações, de modo que possam fomentar e inspirar mudança de comportamento nas suas comunidades.
A propósito da Semana Mundial de Aleitamento Materno, estas mulheres estão envolvidas em várias actividades de educação nutricional visando o reforço das mensagens sobre o aleitamento materno exclusivo (dos 0 aos 6 mês) e a amamentação continuada até aos 2 anos ou mais. A Semana Mundial de Aleitamento Materno foi criada em 1992 no quadro das acções visando promover a sobrevivência, protecção e desenvolvimento da criança ao nível mundial. Em 1990, a Organização Mundial da Saúde e Fundo das Nações Unidas para a Infância organizaram um encontro que resultou um documento adoptado por organizações governamentais e não governamentais, assim como, por defensores da amamentação de vários países, entre eles Moçambique.
Por meio de palestras nas unidades sanitárias, visitas dominiciliares às mulheres grávidas, lactantes e às mulheres que tenham crianças menores de 2 anos, as ‘mães-modelo’ treinadas pela Save the Children estão a disseminar mensagens sobre a importância e benefícios do aleitamento materno exclusivo, técnicas de amamentação (a boa pega). Estas actividades estão a decorrer nos distritos de Tsangano, Mutarara, Cahora Bassa, Moatize e Changara ao nível da província de Tete e em Guro, Machaze, Tambara, Barué e Macossa, na província de Manica.
Na província de Nampula, especificamente nos distritos de Muecate, Morrupula, Mecubúri, Angoche, Malema, Moma, Mogovola, Monapo, Larde e Nampula tidos como os mais críticos em desnutrição crónica, a Save the Children, através do seu programa de sobrevivência materno-infantil (MCSP) está a fortalecer mensagens ao nível comunitário sobre a importância do aleitamento materno. “Por meio dos nossos Agentes Polivalentes e Oficiais Distritais de nutrição promovemos campanhas de adopção de boas práticas alimentares durante a gravidez e após o parto, fazemos demonstrações culinários nas comunidades, distribuiçåo de micronutrientes em pó, encaminhamento às unidades sanitárias. Tentamos quebrar com algumas crenças culturais que consideram o leite colostro (primeiro leite produzido pela mãe após o parto ) impuro”, Stélio Dimande, gestor do MCSP.