STAR-G devolve raparigas à escola através do ensino à distância
Um rio que separa duas margens. Um rio, que separa duas possibilidades: cruzar o rio à busca de formação ou ter um futuro comprometido por falta de instrução académica. Esses são os dois lados da “moeda” dos quais Lurdes Baloi teve que escolher um.
Lurdes Baloi é uma adolescente de 15 anos, natural de Mabalane e residente no Posto Administrativo de Nwonzo, localizado numa das margens do Rio Limpopo, na província de Gaza. Nwonzo é uma comunidade que apresenta vários desafios sob ponto de vista de acesso a serviços básicos como saúde e educação, sobretudo por esta ser dependente da travessia ao rio, para se ter acesso a diferentes serviços.
O nivel de escolaridade nesta região é consideravelmente baixo, tanto em crianças assim como em adultos. Este cenário deve-se ao facto de não existir, localmente, uma escola secundária, exigindo-se que seja feita uma travessia para a outra margem do Limpopo. Esta viagem, quando feita de canoa custa 50 meticais.
Após concluir a sétima classe em 2017, e porque os pais não reuniam condições financeiras para suportar as viagens de canoa, Lurdes Baloi não teve outra alternativa que não fosse permanecer em casa durante todo o ano de 2018, ocupando-se apenas com afazeres domésticos.
A avaliar pelo cenário do distrito de Mabalane, é de se presumir que o caso da Lurdes não seja isolado afinal, ao nível deste distrito, segundo dados do INE[1], até 2013 havia apenas duas Escolas Secundárias Gerais I públicas e privadas e igual número de Escolas Secundárias Gerais II públicas e privadas.
Durante o ano que esteve em casa, Lurdes Baloi viu seu percurso académico comprometido. “Quando a Lurdes terminou a sétima classe, vimos que não havia como continuar os estudos localmente, sendo que a única opção seria em Mabalane, mas ficava complicado pois teríamos de conseguir um lugar para ela ficar ou teria que atravessar o rio todos os dias, o isso implicaria desembolsar 500 meticais por semana, só de transporte. Chateáva-nos vê-la em casa durante um ano, exposta e vulnerável a vários riscos, entre eles a gravidez precoce”, conta o pai da adolescente.
No entanto, para a sorte de Lurdes, o pai, que é membro do Conselho de Coodenação Comunitária (CCC) teve conhecimento, numa das reuniões do Conselho de Escola em que participara, da acção do projecto STAR-G, implementado pela Save the Children na província de Gaza desde 2018, numa abordagem de ensino à distância em Centros de Aprendizagem Aberta, onde as pessoas (crianças e adultos), podem inscrever-se nas escolas que se encontram na outra margem do rio.
Por se tratar de um conceito novo naquela região, não foi facilmente recebido pelos membros da comunidade, incluindo os pais da Lurdes. Embora receioso, o pai da Lurdes conversou com a mãe, e juntos decidiram matricular a filha para 2019. “Quando o meu marido veio me dizer, não percebi bem porque nunca tinha ouvido que uma criança podia estudar sozinha em casa. Tive receio que não dêsse certo. Mas depois fui percebendo e decidimos matricular a criança”, lembra a mãe. Essa é a situação actual de Lurdes Baloi. Depois de ficar um ano em casa, graças ao projecto STAR-G a adolescente pôde voltar a sonhar com a carrreira de professora, conforme revelou ao técnico da Save the Children.
No regime de aulas à distância, a adolescente que frequenta a oitava classe, cruza o rio dois dias por semana, na companhia da amiga, ao encontro do orientador no Centro de Aprendizagem Aberta na Escola Secundária de Mabomo, com quem recebe esclarecimentos e passa por algumas avaliações ao fim de cada módulo que lhe é fornecido na escola.
Lurdes Baloi já se mostra bastante animada e esperançosa, no entanto, os desafios prevalecem, sendo um deles o mesmo que a fez ficar um ano sem esctudar: a dificuldade financeira dos pais. Nestas viagens semanais, quando o caudal do rio Limpopo estiver alto, os pais de Lurdes devem desembolsar 200 meticais, para que ela possa atravessar de