Save the Children reduz 28km de busca de água para menos de um metro em Pumbe, Gaza
O acesso à água potável, saneamento e higiene (ASH) são tidos como o cerne do desenvolvimento económico e social sustentável de uma nação, no entanto, Moçambique está aquém de atingir as metas do Objectivo de Desenvolvimento do Milénio referentes ao acesso à água potável e saneamento básico (UNICEF).
Desde 1990, a cobertura do abastecimento de água potável é baixa, situando-se em 49%, com uma grande disparidade entre a cobertura urbana (80%) e a cobertura rural (35%). O desafio de melhorar as condições de ASH nas pequenas cidades/vilas é enorme; elas representam cerca de 15% da população urbana de Moçambique, quase 2 milhões de pessoas. Embora estas vilas sejam estratégicas para o desenvolvimento, os serviços de abastecimento de água potável e saneamento ficaram muito para trás nos investimentos em grandes cidades, ou até nas zonas rurais circundantes (UNICEF).
As unidades sanitárias e escolas são instituições cruciais para a sobrevivência e o desenvolvimento das crianças, mas infelizmente elas são caracterizadas por níveis inadequados de abastecimento de água potável e saneamento. Apenas uma estimativa de 40% das escolas rurais têm instalações de ASH para alunos e professores (UNICEF).
Pumbe, uma pequena comunidade de cerca de 300 agregados familiares, cita no distrito de Guijá, zona centro da província de Gaza - Moçambique, dista cerca de 52 km da sede distrital, Caniçado. Esta próxima do curso do rio Limpopo facto que a torna propensa à práctica da agricultura no entanto, as alternadas inundações e secas - um padrão que muitas vezes impede as culturas de crescer ou dar lugar a colheita e, em geral desencoraja o investimento - contribuem para que a agricultura seja praticada em formas tradicionais ineficientes (abordagem de subsistência). Pumbe dispõem de 3 fontenárias de água sendo que duas (avariadas) fornecem água doce usada para o consumo e uma fornece água com teor de salubridade muito elevado, fazendo com que a comunidade recorra a água do rio Limpopo e charcos.
Bete Samuel Matusse, de 57 anos de idade, é residente da comunidade de Pumbe desde 1973, quando veio juntar-se a Joaquim Muchanga, seu esposo, com o qual partilha os momentos de sua vida até hoje. Em seu domicílio vive com os seus netos Cacilda e Francisco de 12 e 7 anos de idade respectivamente, que estão sob seus cuidados.
A seca severa que assola a província de Gaza, trouxe uma situação de insegurança alimentar para a família da Bete que dependia exclusivamente de agricultura de subsistência, assim como as outras famílias de Pumbe e a falta de água para o consumo intensificou.
Bete com problemas de saúde desde a sua adolescência (reumatismo e dores fortes dos membros superiores que a impossibilitavam de carregar objectos pesados), via-se obrigada a percorrer cerca de 7 km a busca de água no rio, chegando a fazer duas viagens (28 km diários) para garantir a disponibilidade de 50 litros de água que mesmo era insuficiente para além de ser imprópria para o consumo.
“Antes dos meados de 2016 a minha vida junto da minha família era bastante difícil pois ficamos duas épocas agrícolas sem produzir devido à falta de chuva. As nossas reservas alimentares que já eram insuficientes esgotaram e, via-me obrigada a percorrer longas distâncias à busca de água. Os meus netos abandonaram a escola devido a fome.
Em meados de 2016, passei a pertencer a um grupo de agricultores comunitários promovido pela Save the Children no âmbito do projecto de Segurança Alimentar e Meios de Vida, onde beneficiamos de vários tipos de sementes de ciclo curto e o sistema de rega ainda era e manual e tínhamos que fazer um buraco no meio do rio para ter acesso a água. Fazer parte desse grupo, num momento em que vivia-se uma seca severa na comunidade foi uma bênção para mim e minha família assim como para os outros 24 membros. Passamos a ter alimentos que conferiam uma dieta alimentar razoável e, para além do consumo, vendíamos os produtos da machamba e com o valor, apoiámos crianças órfãs e vulneráveis e compramos material escolar para os nossos filhos”, disse a Bete.
O início da época chuvosa relançou as esperanças da comunidade de Pumbe, em particular na família da Bete, que perspectivava salvar ainda a segunda época que já era tida como perdida assim, como tornar a água acessível mesmo que sendo do rio. As chuvas foram normais e tendiam a melhorar a vida da comunidade porém, as altas precipitações que se faziam sentir na África do sul e Zimbabwe elevaram os níveis do caudal do rio Limpopo e criaram inundações que trouxeram consigo crocodilos.
Da situação de seca passou-se para uma situação de inundações que destruiu todas as culturas criando um desalento no seio da família de Bete. Com as inundações, era suposto tornar o acesso de água melhorado se assumir-se que o rio Limpopo estava com níveis de caudal elevado. No entanto, o rio estava cheio de crocodilos que impossibilitavam qualquer aproximação da comunidade dado ao perigo que constituiam, facto que levava a família da Bete a pagar 12,00 (doze meticais) por 25 litros de água tirada em Chinhacanine, a cerca de 20 km de Pumbe e muitas vezes, a Bete não dispunha desse valor.
“Graças a Save the Children, tenho mais tempo para cuidar dos meus netos e minha casa”.
Pelo sofrimento que Bete e sua família estavam sujeitos pela falta de água, a Save the Children, através do projecto de Segurança Alimentar e Meios de Vida, nas suas intervenções, montou um tanque para retenção de água da chuva na casa de Bete, de modo a minimizar o seu sofrimento e tornar a água acessível a esta família.
“Hoje tenho acesso a água em minha casa para suprir as necessidades da minha família, não tenho mais que percorrer longas distâncias a busca de água e muito menos pagar pela compra conforme sucedia. Graças a Save the Children, tenho mais tempo para cuidar dos meus netos e minha casa” alegra-se Bete.
A Save the Children, nas suas intervenções, tem estado a montar tanques de água a nível dos distritos de impacto, em famílias carenciadas como a da Bete, no sentido de a tornar acessível e reduzir o sofrimento a que estas famílias estão sujeitas.